“Em reunião, universitários do Rio pregaram confronto com a PM e
vandalismo”. Esse é o título de matéria sensacionalista publicada na Revista Época (que pertence às organizações Globo), na sua versão online dessa semana. Fazendo papel de porta-voz da Polícia, sem qualquer preocupação com checar fontes e/ou ouvir o contraditório, a revista diz ter tido acesso a um relatório de Inteligência da Polícia Militar do Rio a respeito de uma assembléia dos estudantes de geografia da UERJ,campus Maracanã, ocorrida no dia 24/06 último. Nessa assembléia, segundo a versão policial reproduzida por Época, vários estudantes teriam tomado a palavra defendendo a necessidade de “confronto” com a polícia. A revista chega mesmo ao cúmulo de citar nomes, que teriam sido repassados pelo policial, numa flagrante tentativa de identificar pessoas para que possam ser criminalizadas.
Cada vez mais o monopólio de comunicação que é a Globo revela sua falta de comprometimento com a verdade dos fatos, cumprindo papel de imprensa militarizada a serviço de Sérgio Cabral. Além disso, a ação policial relatada fere claramente a autonomia universitária e lembra os períodos mais sombrios do regime militar, quando era comum que atividades estudantis fossem monitoradas pelas ditas “forças de segurança”, seguindo a teoria do “inimigo interno”. A Globo, aliás, entusiasta apoiadora do golpe de 64, honra assim as suas mais obscuras tradições. A matéria irresponsável assinada por Raphael Gomide vai ainda além da reprodução do que em tese seria a versão policial, fazendo ligações entre o que disseram os estudantes na assembléia com atos ocorridos em manifestações posteriores. Isso é muito grave.
Possivelmente muitos investigadores de polícia não teriam coragem de escrever o que o “jornalista” Raphael Gomide assina. Essa matéria deve envergonhar a todos os jornalistas que exercem de modo sério sua profissão.
Nós, estudantes de geografia da UERJ, campus Maracanã, condenamos, em primeiro lugar, a ação policial dentro de nossa universidade. Exigimos, também, da própria Universidade, na figura de seu reitor Ricardo Vieiralves, que se posicione energicamente contra essa flagrante violação da autonomia universitária. Ademais, ainda que o que tivesse sido dito fosse verdade -o que não é -em nada constituiria crime, se tratando de uma atividade acadêmica, que pressupõe exatamente a mais ampla liberdade de opinião e manifestação.
Acreditamos também, como geógrafos em formação, que o debate a respeito das manifestações populares tem forte vínculo e interesse para nosso curso. Em segundo lugar, condenamos a revista Época e seu jornalista Raphael Gomide, autores de autêntico vandalismo contra a verdade dos fatos, contra o direito de livre manifestação e, igualmente, contra todos os alunos, professores e funcionários de nossa universidade.
Reafirmamos nossa compreensão de que a luta do povo é justa, e que as ruas são o único caminho para vermos atendidas nossas reivindicações. Diante do cenário atual de prisões arbitrárias, criminaização dos movimentos populares e todo tipo de perseguições contra ativistas, e ainda diante da brutal repressão policial contra nosso legítimo e democrático direito de manifestação, achamos fundamental que todos se mantenham atentos e mobilizados. Fazemos um chamado a todos os
estudantes, centros acadêmicos, Diretório Central dos Estudantes,
técnico-administrativos e professores da UERJ a não tolerar esse tipo de arbitrariedade dentro de nossa universidade. Essa é a hora de aumentar ainda mais a politização e mobilização de nossos colegas. O ataque aos estudantes de geografia é um ataque a toda nossa instituição. Não podemos permitir que o terrorismo de Estado desmobilize o justo protesto popular.
Concluímos a nota nos somando ao coro social pela libertação imediata de todos os presos políticos e extinção dos processos.
Centro Acadêmico Josué de Castro (Geografia -UERJ Maracanã)
Fonte: Facebook